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AROUCA - Sábado 11H00, inicio da recriação das invasões francesas no território Arouquense com a debandada das freiras do Convento, e da população em geral a refugiar-se, com a tropa francesa a fazer do Mosteiro o seu quartel. Note-se que estas segundas invasões Francesas incidiram aqui no Norte, com incidencia em regiões como Oliveira de Azeméis, Santa Maria da Feira, Arouca, Castelo de Paiva, e V.N. Gaia. Guerra sangrenta, com muitas mortes nestas localidades, as quais têm a sinalizar pequenos memoriais um pouco esquecidos e ignorados. E por fim os Franceses meteram o rabinho entre as pernas, porque não levaram nada deste Leal e Mui Nobre Povo do Norte, com a Invicta cidade do Porto a dar o mote. Foi sempre daqui que partiu a defesa da independencia de Portugal, quando esteve ameaçada em algumas fases da nossa História "RESPECT".
HISTÓRIA - BREVE RESUMO:
No decurso do mês de abril de 1809 sucedeu que um destacamento da Leal Legião Lusitana, comandado pelo capitão Luís Paulino d'Oliveira Pinto de França, conseguiu resistir durante cerca de nove dias e fazer recuar um destacamento de tropas francesas que se dirigia à vila de Arouca, alcançado assim o objetivo de proteger não só as populações do concelho, como também o centenário convento ali existente.
As invasões francesas no território da Diocese do Porto
C. F.
As invasões francesas, uma das maiores megalomanias militares da História (mesmo considerandos os impérios antigos que se desmoronaram, e depois delas o extravagante projecto hitleriano, o império soviético e actualmente o pretenso domínio americano da região do Golfo pérsico) ficaram entre nós especialmente conhecidas pelo chamado desastre da ponte das barcas, que fez perecer, na fuga dos exércitos napoleónicos, alguns milhares de cidadãos da região do Porto, afogados no Douro pela queda da ponte de ligação entre o Porto e Gaia que se encontrava assente sobre barcos que lhe serviam de suporte. Foi um acontecimento trágico, como todos os que nascem das guerras, que foi recordado em 2009 com memoriais cívicos, que juntaram as entidades governamentais e autárquicas, e que culminou com um grandioso espectáculo musical apresentado no Coliseu do Porto, com o qual se quis homenagear os mortos e exaltar os vivos.
Porém, as três invasões francesas tiveram muitos outros momentos marcantes, até à expulsão definitiva do invasor que, como todos os invasores da história, depois de ter cometido toda a espécie de agressões e crimes, acaba por ser reenviado para a sua terra sem honra nem glória, mas envolto na vergonha da agressão. Nunca ninguém ganhou definitivamente uma guerra de agressão ou de invasão. Aliás, entendo que nunca ninguém ganhou uma guerra: todos a perdem sempre, mais cedo ou mais tarde.
Estes dados são recordados a propósito de um livro recentemente publicado, da autoria de Samuel Bastos de Oliveira, com o título Os Mártires da 2.ª invasão francesa entre Douro e Vouga, portanto terras de toda a região sul do território da diocese do Porto e norte da de Aveiro (também o sul do distrito do Porto e grande parte do de Aveiro).
Este livro é muito interessante, não tanto pela recordação dos acontecimentos mais marcantes da segunda invasão francesa que foi a que percorreu o território portuense, mas sobretudo por reunir textos e dados que testemunham por um lado o receio por parte das autoridades de massacres, e por isso recomendam que não se realizem atitudes hostis ao invasor, e por outro lado um certo voluntarismo da população que lhe faz frente em várias circunstâncias, com resultados trágicos. Um dos mais conhecidos passou-se entre S. Tiago de Riba Ul e Arrifana (Feira), onde foram mortos dois oficiais franceses pelos populares, o que levou o general Soult a tomar vingança, mandando saquear e incendiar esta última povoação, fuzilando cerca de 300 pessoas, homens, mulheres e crianças, como conta no teor de uma lápide comemorativa a que chamam as alminhas dos franceses na vila de Arrifana e cujos assentos são apresentados no livro.
Um episódio significativo. Relatos deste género encontram-se em todas as localidades desde Murtosa e Estarreja, passando pelas terras de Vale de Cambra, Arouca e Castelo de Paiva, até Grijó (em cujo mosteiro se aquartelaram os franceses).
Baseado em documentos que transcreve, Samuel Oliveira apresenta relatos de morte e enterrramento de que destacamos este episódio significativo:
O Padre João de Sá Rocha [que era capelão das freiras do Convento de Monchique,no Porto], natural de Anta, foi fuzilado em 11 de Maio de 1809, no lugar de Esmojães, freguesia de Anta, pelos soldados de Soult, por este se ter recusado a revelar-lhes a confissão do salteador e assassino Catafula, como exigiam para descobrirem os guerrilheiros que teriam sido cúmplices de Catafula na morte de três soldados franceses, a 10 de Maio d 1809 quando passavam ela estrada real entre os Carvalhos e o Picoto de Argoncilhe. Esta morte foi particularmente violenta, porque os cadáveres dos mortos, incluindo a mãe e um irmão do padre, foram pendurados num pinheiro, até que depois da partida dos franceses lhes deram cristã sepultura. Nesse local ou próximo dele se ergueram depois umas alminhas e se marcaram em um pinheiro sete cruzes, até que este foi derrubado por um temporal em 1954.
São muitos os relatos, os registos paroquiais e os episódios que o autor regista neste livro, salientando mesmo cada uma das freguesias em que a horda francesa fez estragos. Das freguesias de Gaia revela o autor que apenas se livraram das tropas invasoras as freguesias de Crestuma, Lever, Oliveira do Douro, Olival, S. Félix da Marinha, Sandim, Seixezelo e Valadares (aquelas onde o autor não encontrou registos de óbitos). Note-se que, aparte S. Félix da Marinha e Valadares, se situam a oriente do concelho de Gaia, onde provavelmente não passou o exército invasor.
Desta investigação algo se pode concluir: que uma guerra apenas produz vítimas, não há registo de vencedores; que os que se supõem vencedores também morrem e que guarda deles a história?; o registo do padre que foi fuzilado e exposto o corpo por não revelar o segredo da confissão não consta no santoral, como tantos outros na história, mas é um bom exemplo trágico do dever cumprido; que nas guerras a vida humana é coisa sem valor, ou cujo valor é sempre submetido ao interesse, à ambição ou à vingança. Mesmo um relato meramente factual ou de registo burocrático obrigatório pode ensinar-nos mais que muitas teorias e bons conselhos.
Samuel Bastos de Oliveira, Os Mártires da 2.ª Invasão Francesa entre Douro e Vouga, Oliveira de Azeméis, Nov. de 2009.
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