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ALDEIA TRADICIONAL DA GRALHEIRA - CINFÃES DO DOURO - VISEU


Apontamento AuToCaRaVaNiStA:
A Aldeia Tradicional da Gralheira, fica situada na serra de Montemuro, Concelho de Cinfães, Distrito de Viseu.
Esta Aldeia serrana encontra-se numa encruzilhada de 3 Concelhos diferentes, a saber: Cinfães (onde pertence), Resende, ali ao lado, e Castro Daire, o Concelho mais próximo. Esta Aldeia Tradicional ainda tem como moradores os habitantes da origem, ao contrário de muitas aldeias que se vão desertificando, esta ainda vai resistindo ao turismo rural de fim de semana.
Aldeia bastante frequentada ao fim de semana pela sua gastronomia já que existem ali 2 restaurantes típicos com boa comida. Para o autocaravanismo informa-se que o pouco estacionamento que tem é bastante desnivelado, e os acessos fazem-se por caminhos estreitos e sinuosos, que convém em alturas de frio contar com neve no caminho.

HISTÓRIA:
Alcantilada na Serra de Montemuro, na vertente norte, a freguesia da Gralheira orgulha-se de ser considerada a «PRINCESA DA SERRA», por desde longínqua data, ser a mais progressiva e desenvolvida das que a rodeiam nas encostas da montanha.

Situada nos limites do concelho de Cinfães (ao qual pertence), a sua vida, porém, está mais ligada a Castro Daire, quer pela distância quer pelas vias de comunicação. As povoações mais próximas e com que confina, são: a norte, a Panchorra, do concelho de Resende; a sul, Carvalhosa, Pereira, Cêtos, Póvoa e Faifa, do concelho de Castro Daire; a leste, Cutelo, Campo Benfeito e Rossão, também de Castro Daire; e a oeste, Bustelo, Alhões e Vale de Papas, do concelho de Cinfães. Por esta descrição, facilmente se pode concluir que a GraIheira fica situada no vértice de uma pirâmide, onde terminam os concelhos de Castro Daire, Resende e Cinfães.

A freguesia mais próxima é a Panchorra, que dista apenas cerca de dois quilómetros, tendo a separá-las o Ribeiro Cabrum. Situada em plena serra, encontra-se cercada por altas montanhas onde abundam os planaltos e os outeiros. A paisagem à sua volta é deslumbrante, embora bravia, tanto no Inverno, como no Verão. Se é certo que no Inverno a sua gente mal pode sair de casa, fustigada pela neve e pelo vento, não é menos verdade que, quando aquela cobre monte; e vales com o seu manto alvinitente, oferece a quem a observa um panorama admirável.

No Verão, é embriagador subir ao alto dos montes para ficar extasiado a contemplar toda aquela beleza que se ergue a seus pés, desde o fundo dos vales até ao pico das montanhas. E olhando lá em baixo, ao fundo da encosta, toda risonha e atraente, vê-se a povoação rodeada de campos verdejantes, com o Cabrum a correr ao fundo, deixando transparecer, aqui e além, uma casa de paredes caiadas, em contraste com a sua cobertura de colmo. Segundo Pinho Leal em «Portugal Antigo e Moderno», o seu nome provém da palavra agreste», porque antes se chamou AGRALHEIRA, que no português antigo, significava sítio desabrido, agro, áspero, infértil, etc. Não se sabe ao certo a data da sua fundação ou criação, roas supõe-se já existir no tempo dos Godos. Foi um dos quatro curatos da freguesia de S. Pedro de Ferreiros de Tendais, que chegou a ser concelho durante muitos anos. E por me parecer importante que fiquem a conhecer a história deste concelho, transcrevo aqui o que consegui recolher na obra de Pinho Leal, acima referida.

"D. Sancho I, Rei de Portugal, Ihe deu foral em Maio de 1210 e D. Afonso II deu-Ihe novo foral, com grandes privilégios e foros, elevando Ferreiros de Tendais à categoria de vila e mudando-lhe o julgado em concelho, em 4 de Janeiro de 1258, com as seguintes regalias:
Nomearam entre si um mordomo para receber os foros e entregá-los ao Rei; não irem à guerra sem que o Rei fosse; não responderam senão pelos crimes de homicídio, rapto e lixo na boca. De modo que podiam ser adúlteros. sacrílegos, falsários ladrões, etc, impunemente.

Todos estes privilégios e outros menos importantes, tinham os povos da Agralheira, (hoje Gralheira), Alhões, Bustelo da lagem, Pinheiro, Vila Boa de Cima e Ramires, que eram abrangidos pelo mesmo foral. Tinha também este concelho o privilégio de reguengo e nunca poder sair da Coroa. Mas, D. Afonso V anulou-Ihe este privilégio, dando esta terra, em sua vida, a D. Fernando 1, Duque de Bragança, por doação régia de 15 de Agosto de 1471 com a categoria de julgada. D. Manuel confirmou esta doação no Duque D. Fernando II (filho daquele, de juro e herdade, por provisão passada no Restelo (Belém, a 15 de Agosto de 1495 e depois a confirmou ao Duque D. Jaime, em Alcochete, a 16 de Julho de 1496. Era pois da Casa de Bragança. D. Jaime era íntimo amigo e companheiro d'armas de Rui Vaz Pinto, da família das Pintos de Riba Bestança, senhor da Quinta de Covelas, adiantado de entre Douro e Minho, regedor das justiças e alcaide-mor de Chaves. Esta geração dos Pintos acabou em Manuel António Pinto, que morreu no fim do século XVIII. Tendo o Rei D. Manuel dada o comando de uma armada a D. Jaime, este toma à viva força a cidade marroquina de Azamor, em 3 de Outubro de 1513.

Esta vitória desanimou tanto os mouros, que abandonaram as cidades de Ti-Fi e Al-Medinah. Ben-A-Cafiz, Tafut e Tetnest se rendem, em poucos dias, às armas portuguesas. Rui Vaz Pinto, capitão de uma das galés, tais feitos de valor obrou, nesta guerra, que D. Jaime pediu ao Rei licença para Ihe doar o senhorio de Ferreiros de Tendais, ao que D. Manuel anuiu, em I515. D. João III a confirmou em Évora, a 22 de Novembro de 1533.

Assim, passaram os Pintos (desde então chamados da Torre de Chã ou vilar de Chan, a serem donatários deste concelho. Mas falemos agora desse célebre castelo de Vilar de Chan, ou como vulgarmente era conhecido, Torre de Chan. Há poucos portugueses que ignorem o feito glorioso do audaciosíssimo cavaleiro Geraldo GeraIdes, o sem pavor, isto é, a conquista de Évora, em 30 de Novembro de 1166.

Segundo um manuscrito de autor anónimo, mas que se supõe ser de algum frade bento, diz que Geraldo era natural da vila de Ferreiros de Tendais ou do concelho e de uma família distinta de apelido Pestana. Jovem bravo e aventureiro, reuniu uns 100 homens, seus conterrâneos e apresentou-se com eles a D. Afonso Henriques e obrou prodígios de valor com a sua gente, pelo que era muito estimado do Rei, que lhe chamava o sem pavor. Porém, matando em desafio um fidalgo de nome D. Nuno, grande valido de D. Afonso Henriques e temendo a cólera deste, fugiu com a sua gente.

Como antes de ser um grande soldado, tinha sido um caçador intrépido, sabia que sobre a margem direita do Rio Bestança ( 6 km a ESE do Douro), havia no alto de um monte, um sítio agreste e escabroso, formado um plató quase inacessível, por estar cercada de altas penedias, tendo no centro um alcantilado rochedo. Sabre ele edificou Geraldo e os seus, um robusto castelo, tão inexpugnável por arte, como terrífico por natureza, e aqui fez o centro das suas operações, que eram, diga-se a verdade, roubar indistintamente, mouros e cristãos, sendo o terror dos povos da província.

A fama das grandes presas que jazia, atraiu tantos bandidos à sua bandeira, que chegou a ter 526 soldados de cavalaria e grande número de peões, de maneira que fazia a guerra como conquistador e não como salteador. Quem queria estar a salvo das suas rapinas, pagava-1he anualmente um tributo estipulado. Mas Geraldo era um nobre cavaleiro, não se conformava com esta vida de rapinas e depravações e queria, a todo o custa, obter o perdão do Rei, que temia. Deixou os seus companheiros no castelo e foi só com 5 à cidade de Évora. Aí, falando com o alcaide-mor, disse muito mal de D. Afonso Henriques e prometeu ajudar os mouros a derrotá-lo. O alcaide ficou muito satisfeito e convidou Geraldo a passar dois dias consigo, o que este aproveitou para examinar a fortaleza e fazer namoro à filha do alcaide.

Voltando ao seu castelo, disse aos seus soldados que se preparassem para uma grande façanha, ao serviço do Rei, de Deus e da Pátria, mas sem Ihes dizer qual. Prometeu-lhes o perdão do Rei e ainda honras e terras. Todos concordaram e ele mandou armar e prover de mantimentos para vários dias. Ao anoitecer sairam do castelo, seguindo viagem a caminho de Évora. Caminhavam de noite e escondiam-se de dia. A dois quilómetros de Évora mandou cortar trancas, revelando-lhes então o seu intento.

Dirigiu-se só à cidade, coberto de ramos verdes para não ser visto e assim se aproximou da Torre de Atalaia, onde estava de sentinela um mouro e sua filha. Como não tinha escada para subir, foi espetando ferros e lanças nas juntas das pedras, subiu até à janela onde estava a moura e lançou-a abaixo da torre, degolando em seguida o mouro que ainda dormia. Levou as cabeças dos dois vigias aos seus soldados em sinal de bom anúncio. Voltou depois com os seus homens a investir contra a cidade, lançou fogo à Torre de Atalaia, para atrair aí as forças mouriscas, que, na precipitação, deixaram as portas da cidade abertas.

Geraldo entrou nelas com os seus e trancou as portas com as trancas que mandara cortar. Os mouros ao verificarem o logro em que caíram, investiram contra a porta, mas tiveram que fugir, porque Geraldo deixara 120 homens a cavalo do lado de fora, que nessa altura entraram ao ataque. A população, fugiu espavorida e então Geraldo mandou fazer o saque à cidade e desse produto enviou um quinto ao Rei, como era da praxe naquele tempo, comunicando-lhe o sucedido.

D. Afonso Henriques ficou contentíssimo com esta inesperada conquista e perdoou a Geraldo e aos seus, todos os delitos, nomeando-o alcaide-mor da cidade e outras mercês. Aqui fica a história do Castelo ou Torre de Chan. Foi depois este castelo o solar dos Pintos da Torre de Chan, que construiram junto as suas casas de habitação. No declive do monte se veio com o tempo, a formar a aldeia de Chã, onde foi construída urna capelinha em 1671, por Francisco de Oliveira e Brito e sua mulher Isabel Pinto da Costa.

Dizem alguns, que os povos da Bestatania foram os primeiros povoadores desta terra e deram ao rio o nome da sua pátria, que depois se corrompeu em Bestança. O que é certo é serem povoações muito antigas, talvez povoadas no tempo dos Godos, que aqui construíram os três castelos chamados da Coroa da Aldeia, de Alret e de Ramires. Todos estes castelos estão destruídos. No da Coroa da Aldeia, dizem existir um poço, que segundo a tradição, era a entrada de uma galeria subterrânea, que ia até ao Bestança. Segundo uma escritura existente no Cartório do Convento de Paços de Sousa, o Rio Bestança já assim se chamava no ano de 1050.

O concelho de Ferreiros de Tendais tinha duas freguesias: S. Miguel de Oliveira do Douro e Ermida anexa; e S. Pedro de Ferreiros que tinha quatro curatos: Bustelo da Lagem, Alhões, Gralheira e Ramires. Tinha 12 quilómetros de comprimento desde a Serra do Pernaval até ao Rio Douro e 6 quilómetros de largura, entre os ribeiros Cabrum e Bestança. Os moradores deste concelho pagavam anualmente o foro de 25 bolos de manteiga do tamanho de ovos de pata. A Gralheira, em 1757, tinha 60 fogos. O abade de S. Pedro de Ferreiros apresentava o cura, que tinha quarenta mil réis e pé d'altar".

A serra de Montemuro, que à Gralheira serve de trono, também tem a sua história. embora haja quem diga que é a serra mais desconhecida de Portugal. Há muita gente que, indevidamente, lhe chama SERRA DA GRALHEIRA, talvez por ser este o nome da freguesia que fica mais no alto.

O seu verdadeiro nome - Serra de Montemuro - parece ter sido motivado por umas muralhas que existiram no cima da serra, nas Portas de Montemuro, que hoje se encontram em ruínas, e que, segundo documentos antigos, foram construídas pelos Lusitanos, quando comandados por Sertório, para assim melhor resistirem às investidas das Legiões de Roma.

Protegidos por essas muralhas, teriam os Lusitanos suportado os ataques Romanos infligindo-lhes tantas derrotas quantos os ataques que estes lhes moveram, sendo apenas vencidos pela traição, que vitimou Sertório, tal como acontecera a Viriato e só assim conseguindo transpor aquelas muralhas inexpugnáveis até então.

Mais tarde, foram também utilizadas por Geraldo o Sem Pavor, no tempo em que foi chefe de salteadores, como atrás ficou dito. Exercia a sua nefasta acção naquele sítio, por ser ponto obrigatório de passagem do Douro para o Paiva, em virtude de, ao tempo, não haver outro transporte que não fosse a pé ou a cavalo, e ser mais perto por ali. Geraldo que conhecia bem o local, ali esperava os viajantes, roubando quem por lá passava.

Foi devido a essas muralhas que antigamente davam à serra o nome de «Monte do Muro», até que mais tarde passou a denominar-se Montemuro. A sua altitude é de cerca de 1383 metros, estando em quinto lugar na ordem decrescente das serras de Portugal.

Fonte: www.gralheira.net

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