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MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE JÚNIAS - MONTALEGRE

Apontamento AuToCaRaVaNiStA:

Não muito longe da Aldeia de Pitões de Júnias, fica situado este pequeno Mosteiro da Ordem de Císter uma das Ordens que mais construiu e a quem se deve uma grande parte do nosso património religioso edificado. Para se aceder ao Mosteiro é necessário fazer algum sacrifício físico já que foi edificado junto à ribeira onde a água passa junto aos muros do Mosteiro, e por isso fica nos baixios desta zona alta de Pitões de Júnias. O mosteiro está em ruínas, penso que está já controlada a sua preservação, pelo menos não deixar que caia o restante. Apenas a Capela e o cemitério se encontram fechados, todo o resto é visitável.


             HISTÓRIA:
MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE JÚNIAS
ORDEM DE CISTÉR
Fica o convento entalado num vale, por onde corre o rio campesinho. Visto cá de cima, para quem acaba de deixar a aldeia de Pitões, distingue-se-lhe nitidamente a distribuição dos espaços em que está repartido. O conjunto edificado é modesto, e os escassos arcos que restam do claustro, pela sua escala tão reduzida, dão bem a ideia do que foi este convento cisterciense dedicado a Santa Maria.

De todas as construções, apenas a igreja se conserva telhada, que o resto são paredes de ruína. Estamos em plenas Terras de Barroso. Em território outrora completamente isolado, inóspito mesmo, fica este Mosteiro de Santa Maria de Júnias, consagrado à Senhora que o povo crismou de Senhora das Unhas, por simplificação fonética. A casa religiosa era independente do poder episcopal e estava submetida ao Convento de Santa Maria de Ouseira, mosteiro cisterciense da irmã e vizinha Galiza, estabelecido a umas três dezenas de quilómetros a norte de Ourense. Como noutros casos análogos, o tempo, a história, as suas brumas, escondem o nascimento do mosteiro. A ausência de dados faz com que se lhe aplique um molde, modelo comum para explicar as raízes e a formação de outros mosteiros.

Tudo começa lá para finais do século IX, com ermitas sequiosos de solidão que se estabelecem neste vale estreito onde corre a ribeira de Campesinho. Depois, juntam-se e organizam-se passando a reger-se pelas regras de vida comunitária traçadas por S. Bento de Núrsia, O fundador do mosteiro itálico de Monte Cassino, no século VI. Esta adopção da regra beneditina ocorreria no deserto de Pitões no final do século VI, início do seguinte. É já em meados do século XII, em 1247, que o Papa Inocêncio IV trata de intimidar o arcebispo de Braga a renunciar à sua oposição a que o mosteiro se filie na ordem cisterciense fundada por Bernardo de Claraval, determinação a que, em 1248, o arcebispo João Egas declara submeter-se. A filiação fez-se, nesta altura, ao Mosteiro de Santa Maria do Bouro, tendo Júnias passado depois, em data indeterminada, a depender do mencionado convento galego de Ouseira (situado a cerca de uma centena de quilómetros a norte de Júnias).

A verdade, porém, é que alguma relação de dependência de Ouseira estaria estabelecida quase um século antes de Santa Maria de Júnias ter começado a reger-se pelos estatutos bernardinos. É o que um autor deduz, a partir de um documento datado de 1157 e referido a um certo «canal de Olleros», priorado de Ouseira. O documento, que tem aposta a assinatura do abade de Júnias, permitiria estabelecer tais laços entre os dois conventos, o galego e o português (de facto ambos galegos, no sentido mais fundo da designação). Antiguidade do edifício da igreja, para além da datação que possa fazer-se através da análise tipológica dos seus elementos, é atestada pela inscrição gravada na face exterior do muro da igreja que delimita o cemitério, junto à porta lateral: ERA: MCLXXXV (segundo estudo de Lourenço Fontes, assim grafada: É MCSXXXV), em leitura feita em Quinhentos.

De qualquer maneira, reduzindo a era de César à de Cristo, este ano de 1147 será a data provável da fundação do mosteiro das Júnias, meia dúzia de anos apenas após a fundação da casa de Ouseira (em 1141). A história do modesto cenóbio (os documentos que se lhe referem encontram-se fundamentalmente no Arquivo Provincial de Ourense) não deixou grandes traços. Personagem digno de nota ligado ao convento é um frei Gonçalo Coelho, a quem desgraça e santidade conferem lugar de monta. Flaviense, já devota fama no mosteiro beneditino de Santo Tirso, donde viera, o frade é nomeado abade de Júnias em 1499.

Paroquiando andarilhamente Pitões e Cela (do outro lado da fronteira), achou-se, dos primeiros dias de Fevereiro de 1501 no meio de um nevão quando regressava da paróquia galega. Pois ali, à vista dos Cornos da Fria, se quedou o abade enregelado, enterrado na neve. Já santo de fama, voou-lhe a fama mais ainda e Frei Gonçalo mais santo e venerado ficou. Como relíquia adoraramlhe a cabeça que se quedou ali na igreja do convento, juntamente com outros venerados e preciosos fragmentos destacados de Santa Maria Madalena e de S. Martinho.


Levada, mais tarde, a cabeça de S. Gonçalo para a Igreja de Pitões, não teve a relíquia boa fortuna pois, no século XVII, durante as guerras da restauração no trono de uma dinastia portuguesa, um magote de espanhois decidiu atacar a aldeia. Chegados a pitões, culminaram os nossos caríssimos irmãos as tropelias bélicas com uma fogueira que abrasou todo o povoado, cabeça de S. Gonçalo incluída. Em Janeiro de l533 Edme de Saulieu, abade visitador de Claraval, desembocando em Júnias, lamenta-se amargamente por encontrar o convento em ruínas, desertado de frades. De pé mantinha-se a igreja. Mas durante os séculos seguintes o mosteiro revive e repovoa-se. Sabe-se, por exemplo, que no início do segundo quartel do século XVIII se fizeram obras de certo vulto na parte conventual do edifício.


No momento da extinção das ordens religiosas, em 1834, o mosteiro estava habitado. Frei Benito Gonçalves era um religioso espanhol que ali professava, e veio a ser cura de Pitões, tendo morrido em 1850. Já na segunda metade de Oitocentos uns «moços foliões», como são designados no Guia de Portugal, levaram divertimento e folia para o campo do piromaníaco. Arderam generosamente as instalações conventuais, mas a pobre da igreja, na sua modéstia, lá escapou ao incêndio... Construído lá em baixo, num vale de paredes apertadas, chega-se ao mosteiro por caminho de pé posto, a partir do cemitério de Pitões.


Acesso à Cascata de Pitões
Do alto da ladeira íngreme que leva a S. Maria de Júnias tem-se uma visão de conjunto dos edifícios que compõem o cenóbio. O espaço ocupado forma um quadrado irregular. Sobre a nossa esquerda, o corpo da igreja com a fachada principal virada para nós e a capela-mor junto ao ribeiro (o Campesinho corre no sentido NE/SO). Mais para a esquerda da igreja, murado, o espaço do cemitério. Para o lado oposto, a partir da fachada principal, a portaria, com acesso ao conjunto dos edifícios residenciais, virados para um pátio central.



No centro do quadrado, o vazio do claustro de que restam apenas três arcadas quase anãs. Perpendicular à igreja, nascendo da capela-mor, e acompanhando o correr do ribeiro, o resto de um corpo de dois pisos que compreenderia, a partir do templo, a sacristia e a casa do abade.


Fonte: www.serra-do-geres.com/



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